CLAUDIA BRIZA
Vista geral da exposição
Corda de sisal e madeira 1,2 x 5 x 1,5 m
Varas de bambu, fios de nylon e pedras, 17 x 5 x 17 m
Detalhe
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Madeira e corda de nylon, 1,5 x 1,5 m
Detalhe
Caneta esfereográfica sobre papel sulfite, 29,7 x 21 cm cada, tríptico
Madeira, pinos de metal e boias de plástico, 176 x 176 cm
Detalhe
O Velho e O Mar, 2015
Exposição individual.
Centro Municipal de Educação Adamastor - Guarulhos, SP
Instalação e esculturas usando cordas, madeira, pedras, boias e varas de pesca interpretam a antiga estória de Ernest Hemingway, “O Velho e o Mar”.
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texto da exposição
Contar histórias é uma necessidade do ser humano. Quase tão básica quanto comer, dormir ou fazer sexo, desde sempre parece ser parte do nosso instinto de sobrevivência, pelo menos no que diz respeito à perpetuação da consciência existencial que nos diferencia dos animais irracionais.
Os povos primitivos, por exemplo, transmitiam pela oralidade as histórias de seus antepassados, numa atitude de preservação de sua memória social. Posteriormente, a invenção da escrita permitiu que o homem pudesse armazenar essa memória em um lugar mais palpável, registrando no papiro, e depois, no papel, a informação que, antes estocada apenas nos voláteis compartimentos de memória do cérebro, corria um risco bem maior de se perder.
Hoje histórias pipocam a todo momento, atravessando as mais diversas mídias, cada vez mais digitais e sociais. É assim que produzimos cultura: contando histórias. Mas, para o artista contemporâneo, isso só não basta, pois ele sabe que, por melhor que seja contada, nenhuma história será capaz de traduzir o absoluto da existência. Como abordar o inqualificável? Como narrar o inenarrável? Talvez nunca saberemos, mas com certeza podemos intuir que não seria por meio de uma narrativa com começo, meio e fim.
Por isso Claudia Briza escolhe histórias apenas como ponto de partida para o
desenvolvimento da sua poética, que, como toda boa poética, tem a ousadia de querer tocar o infinito. Para isso, a artista se entrega ao processo arduamente intuitivo de se levar pela corrente desse mar inescrutável da criação artística, onde nada é certo e tudo é possível.
Mas, qual o critério que Claudia teria adotado, na criação de sua nova individual, para escolher, entre tantas histórias, “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway?
Mais uma vez, a resposta dada à artista veio do ato de entrega ao fluxo, por vezes doloroso, do que a vida, com suas turbulências inesperadas, tem a nos dizer. Após o acidente ocorrido com seu marido, impossibilitando-o, não se sabe por quanto tempo, de continuar exercendo a navegação , Claudia parece ter se rendido ao fato de que, no barco da vida não existe mesmo leme, e então, corajosamente, decidiu lançar mão do seu processo criativo para encarar o infortúnio de frente. E nada melhor para isso do que lidar com uma história marinha.
Assim, neste ato bravo e hercúleo, composto por instalações, esculturas e textos, a artista logra sustentar aquele desejo comum a todo artista de transcender as imposições da vida, sublimando a dor em poesia. Não seria exatamente isso que Hemingway almejava quando contava suas histórias?
Fábio Leão