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O Velho e O Mar, 2015

Exposição individual.

Centro Municipal de Educação Adamastor - Guarulhos, SP

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Instalação e esculturas usando cordas, madeira, pedras, boias e varas de pesca interpretam a antiga estória de Ernest Hemingway, “O Velho e o Mar”.

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texto da exposição

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Contar histórias é uma necessidade do ser humano. Quase tão básica quanto comer, dormir ou fazer sexo, desde sempre parece ser parte do nosso instinto de sobrevivência, pelo menos no que diz respeito à perpetuação da consciência existencial que nos diferencia dos animais irracionais.

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Os povos primitivos, por exemplo, transmitiam pela oralidade as histórias de seus antepassados, numa atitude de preservação de sua memória social. Posteriormente, a invenção da escrita permitiu que o homem pudesse armazenar essa memória em um lugar mais palpável, registrando no papiro, e depois, no papel, a informação que, antes estocada apenas nos voláteis compartimentos de memória do cérebro, corria um risco bem maior de se perder.

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Hoje histórias pipocam a todo momento, atravessando as mais diversas mídias, cada vez mais digitais e sociais. É assim que produzimos cultura: contando histórias. Mas, para o artista contemporâneo, isso só não basta, pois ele sabe que, por melhor que seja contada, nenhuma história será capaz de traduzir o absoluto da existência. Como abordar o inqualificável? Como narrar o inenarrável? Talvez nunca saberemos, mas com certeza podemos intuir que não seria por meio de uma narrativa com começo, meio e fim.

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Por isso Claudia Briza escolhe histórias apenas como ponto de partida para o

desenvolvimento da sua poética, que, como toda boa poética, tem a ousadia de querer tocar o infinito. Para isso, a artista se entrega ao processo arduamente intuitivo de se levar pela corrente desse mar inescrutável da criação artística, onde nada é certo e tudo é possível.

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Mas, qual o critério que Claudia teria adotado, na criação de sua nova individual, para escolher, entre tantas histórias, “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway?

 

Mais uma vez, a resposta dada à artista veio do ato de entrega ao fluxo, por vezes doloroso, do que a vida, com suas turbulências inesperadas, tem a nos dizer. Após o acidente ocorrido com seu marido, impossibilitando-o, não se sabe por quanto tempo, de continuar exercendo a navegação , Claudia parece ter se rendido ao fato de que, no barco da vida não existe mesmo leme, e então, corajosamente, decidiu lançar mão do seu processo criativo para encarar o infortúnio de frente. E nada melhor para isso do que lidar com uma história marinha.

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Assim, neste ato bravo e hercúleo, composto por instalações, esculturas e textos, a artista logra sustentar aquele desejo comum a todo artista de transcender as imposições da vida, sublimando a dor em poesia. Não seria exatamente isso que Hemingway almejava quando contava suas histórias?

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​Fábio Leão

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